segunda-feira, 22 de março de 2010

Detalhamento do dia 15 - de cusco a nazca - 650km

Aqui vai o detalhamento que fiquei devendo ontem. As fotos estão todas prontas e reduzidas já, mas o bloggler tá me pregando uma peça hoje.

Vamos lá:

Saí de cusco as 6 e meia da manhã, mas entre trânsito e abastecimento entrei na estrada eram 7 da manhã. Na saída estava 10 graus em cusco. Céu limpo, poucas nuvens. Tudo para ser uma viagem pra lá de tranquila.

Aos 15 km já encontro uma obstrução na pista feita por uns manifestantes, segui um taxista e me embrenhei num barrão mas acabei passando. Depois de uns 40 km começam a aparecer pequenas obras de reparo e alguns trechos em meia pista. Tudo causado pelas chuvas de janeiro. Alguns trechos estavam bem feios mesmo, se alguém tá pensando em fazer este trecho e não tem um uma moto que tope um off road é melhor adiar uns bons meses ou pensar num outro trajeto. Aos 120 km a pista estava interrompida por máquinas, neste momento não teve jeito mesmo, tive que ficar mais de 40 minutos esperando liberarem a pista. Um calor do cão e não dava pra tirar os equipamentos porque os mosquitos estavam fazendo a festa. Liberaram a pista e lá vou eu rodar atrás de uns caminhões de cal, no maior poeirão. Legal pra caramba.

A estrada é num lugar fantástico. Saindo de cusco já começa uma descida e a estrada vai dos 3800 aos 1800 metros. Depois começa a subir de novo, e passando deste trecho de obra já estamos outra vez aos 4000m. Se voces querem saber oq ue é um desnível de 2000m olhem essa foto. Tirei ela aos 4100m e depois de 30km estava lá no meio desta cidade, Abancay, vista daí de cima é muito bonitinha né, encravada entre as montanhas, mas disputa o premio de cidade mais feia junto com juliaca. Páreo duro.

Abancay está a 180km de cusco, depois de mais 300, ou seja, aos 480km de cusco, fica Puquio. Depois de Abancay a estrada começa a seguir um rio que eu não sei qual é, mas bem caudaloso e violento. A estrada segue este rio desde os 1800m até os 3500. Neste trecho chama a atenção a quantidade de trechos em que eles fazem um rebaixo na pista para deixar algum curso d´água apssar sobre ela, são muitos mesmo. Teve um deles que me surpreendeu bem depois de uma saída de curva, que eu vinha a uns 60 por hora e caio no meio de um "rio" no asfalto, neste em especial estava cheio de pedras e terra que o rio trouxe do barranco. Quase passei reto, consegui parar no acostamento da outra pista.

Depois a estrada separa-se do rio e continua subindo. Faltando cerca de 80km pra chegar em Puquio, a estrada dá uma subida mais violenta e vai até os 4300m. Quando estava no final dessa subida começo a perceber o tempo virando, à minha esquerda estava tudo escuro, preto mesmo, o céu chegava a ter uns tons de verde, e muita chuva praquele lado, eu estava achando que estava com sorte, pois estava passando ao largo da chuva. Quando termino de subir, olho no retrovisor e vejo que pra trás de mim também está preto. A estrada dá uma virada pra esquerda e começa a ir em direção a aquele céu verde, ao mesmo tempo que do lado direito também começa a fechar, muito rápido. De repente eu começo a sentir umas "gotinhas", só que estavam fazendo muito barulho. Olho pra baixo e vejo gelo sobre a mala de tanque. Parei na hora pra virar o LDC do GPS pra baixo e toco o barco, estava fraquinha. Até que desceu toró de granizo de uns 2 min. As mãos doíam mesmo de luva. Até as lhamas que estavam na beira da pista tavam correndo que nem loucas. Do nada passou esta primeira pancada e o tempo secou pra mim, eu vi que estava indo pro meio da tempestade e decido parar e colocar a capa de chuva pelo menos sobre a jaqueta e também cobrir a mala de tanque.

Até aí tudo certo, continuo andando pro olho do furação. Eu não tinha escolha, nessa altura faltavam 55km pra puquio ou voltar os 250 pra abancay. Pra trás estava fechado igual, então sem chance, o negócio era tocar o barco. De repente eu percebo um clarão do meu lado esquerdo, não vi o relampago mas fiquei ligado, alguns segundos depois vejo um senhor raio descendo alguns kms a frente bem na direção que eu estava indo. E começaram a vir um depois do outro, de todos os lados, mas muitos mesmo lá na minha frente, e o céu se fechando sobre mim. Nesta altura do campeonato eu estava a 4300m, num platô descampado de vários kms e a estrada fica elevada em relaçao a maior parte do campo. Ou seja, eu era o objeto mais alto no lugar mais alto que poderia estar, e raios caindo por todos os lados. Não entrei em pânico porque não adiantava. Mas estava com medo de verdade. Pensei que dessa não passava, era questão de tempo pra tomar um na cabeça, ou próximo o suficiente pra me derrubar. Sabem aquela história que contam do filminho que a gente vê, eu vi, pensei que não voltaria pra casa. Fiz a única coisa que dava pra fazer, parei a moto, pulei fora e saí correndo pra longe dela e me joquei no chão. Pensei, vou esperar este caos passar e vou até a próxima cidade. Mas aí onde eu estava o tempo não mudava, eram raios pra todos lados e mas não caía a chuva, estava seco ainda. Pensei, vou esperar passar um caminhão, mais alto que eu, então pego a moto e vou grudado no cara até puquio, se cair cai no caminhão. Mas quem disse que vinha algum caminhão. E eu lá de bruços olhando pros lados pra ver se vinha algo. Apareceu uma nissan frontier no retão. Eu corri pra perto da moto e fiquei esperando. Quando o cara passou eu fiz sinal pra ele diminuir e pulei em cima da moto e grudei no cara, ele entendeu. Em 2 min entramos no temporal, e raio pra todo lado. Aos 30km de puquio a coisa ficou feia, era granizo, chuva e raio. E eu tomando o spray dos penus na cara, mas vinha todo encolhido atrás da camioneta. Andamos mais uns 10km nessa situação, a uns 40km/h, até que a pista começa a descer e deixamos de ser a referência. Mas nesta altura do campeonato eu nem respirava mais. A temperatura era de 5 graus eu nem sentia o frio. De repente a chuva passa e quando vejo estou puquio. Vivo e tremendo ainda. Parei pra abastecer e fiquei uns 10 min parado lá até as pernas firmarem de novo.

No céu em puquio tinha um lado, leste, que estava azul. Perguntei pro frentista, é pra lá que fica nasca?? Ele confirmou. Antes de sair olhei no GPS pra ver se era pra lá mesmo. Eram tres e meia da tarde, faltavam apenas 170km, não durmiria ali. Segui viagem. A chuva havia parado, Agora era apenas neblina e mais subida. Puquio fica a 3000m, subi de novo aos 4100, mas sem o temporal e sem raios, estava feliz da vida. eu estava encharcado, comecei a sentir frio. A estrada começa a serpentear e não para nunca mais, até o topo, quando então chega-se à reserva natural Pampa Galera. É um pampa a 4100 metros. Lindo demais. Lá em cima, uns 15 km de retas e então começa a descer pro deserto de nasca. Ao terminar o pampa faltam 55km pra nasca, tudo em descida, curva atrás de curva, até chegar em nasca, a 600m acima do mar. Aqui eu respiro melhor, a moto respira melhor e ainda por cima é mais quentinho e seco. Não pensei que fosse ficar feliz ao ver o deserto de novo. Fiquei.

Nasca é bem desorganizada como qualquer cidade que tenho visto. No centro, a praça de armas é legal, e há uma ruazinha mais ajeitada que serve pra turistaiada ficar comprando lembrança. O transito louco como sempre.

Falando do transito peruano. Aprendi umas coisas. Uma delas é que nunca viajarei de unibus no peru, eu vi o que estes caras fazem na estrada. A segunda é que acho que todo mundo que tem carro aqui vira taxista. Tem muito taxi. A maioria daewo tico e uma perua toyota que eu não sei o nome (que eles compram usados do Japão). Eles andam com uma mão na buzina. O método de oferecer o serviço é buzinar pra toda e qualquer pessoa que eles vêm na calçada. Então imaginem dezenas de taxis andando entre centenas de pessoas. É uma buzinação sem tamanho. Sem contar aqueles que no lugar da buzina poem uma sirene tipo aquelas de advertência da polícia. É irritante demais. Além do mais são muito, mas muito mal educados no transito. Leis, regras e sinalização não valem de nada, eles só obedecem duas coisas, a buzina mais alta e o guarda de apito na mão.

Amanha bem cedo que ver as tais linhas de nasca e depois me mando pra Arequipa, minha ultima parada no peru antes de retornar ao Chile.

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