sexta-feira, 12 de março de 2010

Dia 7 - De Mendoza a Los Andes - 270km

Hoje foi até agora, pra mim, o dia mais marcante da viagem. Atravessar a cordilheira é algo ímpar. Diversas foram as vezes que dei gargalhada dentro do capacete, gritei de empolgação, fiquei com vontade de chorar, fiquei embasbacado, falei sozinho, me belisquei.

Quando se sai de Mendoza você pega uma estrada reta, a ruta 40, rumo ao sul e vai vendo a cordilheira do seu lado direito. De repente o GPS manda sair da 40, entrar na RN7 e vc fica cara a cara com a montanha. Nessa hora eu já estava alucinado. Mal imaginava o que tinha por vir.

Quando acordei hoje olhei pela janela e não acreditei, o tempo, que até então estava perfeito havia fechado. O tio da portaria bate na porta pra entregar o café e me diz que tinha chuva e granizo na cordilheira. Putz.

Saí do hotel as 8 e meia, e pela primeira vez quase caio com a moto. Quando a moto estava descendo a rampa da calçada, fui acelerar e ela engascou e morreu, desceu com tudo pra direita, não sei como consegui segurar. Teve gente que chegou parar na calçada pra ver o tombo, bem feito, ficaram esperando....heheh. Fui no posto da esquina e não aceitavam cartão, fui em mais uns 4 e não aceitavam, já estava querendo ir trocar mais dinheiro quando passei por aquele mesmo dos motoqueiros de ontem, e lá aceitavam, enchi o tanque e os 2 galões, com 4 litros cada. Agora sim a moto está pesada(a argentina está com problema de abastecimento de gasolina, e sabem quem culpam, a petrobrás, que segundo eles baixou o preço e a YPF diminuiu o refino pra subir a cotação....pq a PBR não baixa o preço no Brasil??).

Na saída, na ruta 40, tinha uma manifestação de agricultores, fiquei quase uma hora pra passar. tudo me atrasando. Passei e entrei na RN7. Dou de cara com a montanha, me empolgo, e o tempo com algumas aberturas, mas chovendo fino. E eu já conformado que não v eria a cordilheira como deveria. Mas faz parte, toquei bala e fui. Voltar eu não ia mesmo. O movimento estava mais ou menos e eu a cada curva tinha vontade de tirar uma foto. Acho que bati o recorde mundial de ultrapassagem do mesmo caminhão. eu ultrapassava, parava pra foto, ele me passava, depois eu passava de novo e ficamos nessa...hehe

O tempo foi abrindo.

Depois de uma altura a subida começa a ficar mais severa e começo a ver os primeiros picos nevados. Já tinha visto em Santiago, já tinha visto do avião, mas não é a mesma coisa. Quando se pilota 3 mil km pra vê-los o valor é muito maior. Eles ficam muito mais bonitos. A estrada não tem nem o que falar, uma paisagem mais linda que a outra. Uma curva mais linda que a outra.

Quando estava a uns 2800 chego no tal Puente del inca, tirei a foto, mas não achei nada demais. Pra mim o ponto alto da viagem até agora foi encarar o Aconcágua, com A maiúsculo. A montanha impressiona, o lugar impressiona. Ele se levanta de tal forma diante de ti que perde-se o fôlego. Ali eu chorei. Sonhei com este momento uma boa parte da minha vida e agora estava ali, diante dele. Na hora me deu uma empolgação e eu sai correndo na trilha, corri uns 800m, parecia que tinha corrido 10km, isso de bota, jaqueta, protetor de coluna, calça de cordura, e o pessoal que caminhava por lá com mochila nas costas e andando devagainho pra se poupar me olhando estranho...hahahaha. Já posso voltar pra casa daqui, a viagem já valeu cada dor, cada km de reta, cada tédio, cada dificuldade, cada cerveja deixada de lado pra guardar dinheiro. O resto da viagem é pra cumprir tabela, tem machu-pichu que eu gostaria de ver mas acho que não vai dar, mas pra mim, definitivamente o ponto alto foi encarar o Aconcágua.

Logo depois já vem a fronteira, que é num túnel de 3km. Não entre de óculos escuro, é bem perigoso.

No tal paso de los libertadores é uma burocracia do cão. Perdi 2,5 horas lá. Cinco carimbos, câmbio e a inspeção da bagagem e pedágio, alta informação, tu não sabe onde vai primeiro, em que fila entra, o que é necessário. Na inspeção me fizeram tirar toda bagagem da moto, trabalheira do cão. Mas tudo certinho. Ainda ajudei um casal de brasileiros que tavam apanhando com o espanhol, como se eu falasse alguma coisa...hehehe

Depois da fronteira, na descida tem diversos trechos em obras, só com meia pista, se vc der, como eu, o azar de pegar o seu lado esperando a vez vai perder uma meia hora. Logo que sai do túnel tb tem uma obra grande, ali eu dei sorte, mas é de dar medo o lugar, se o cara descuida cai no barranco de uns 200m. Está tudo no cascalho, a moto vai bailando...hehe .... pesada então é um samba do motoqueiro doido.

Hoje queria ir a La Serena, mas parei muito pra foto, perdi tempo na saída, perdi um tempão na fronteira. Cheguei em Los Andes as 5 da tarde, seriam mais 500km que eu teria que fazer a noite, sem saber direito de combustivel e nada mais. Resolvi ficar, tomar um banho, tirar o pó. Achei um hotelzinho bom, simples, mas com boa internet. Fui no mercado comprar frutas e água. Fiquei um tempo conversando com a tia da recepção e ela me disse que tá tendo tremor todo dia, que ontem deu um forte e que caso desse era pra eu correr pro estacionamento. heheh Esta cidade não tem nada, só terremoto. Mas já me informaram que daqui pro norte está tudo como sempre foi. Não aconteceu nada, o pepino é de Rancágua pra baixo. Amanha pulo as 6 e saio pra Copiapó, não sem antes passar em La serena pra ver se é bonita mesmo. Serão mais de 700km. Trecho de deslocamento é assim mesmo. Este tipo de viagem é assim, um dia vc corre, no outro passeia, e assim vai.

As fotos de hoje vão num post separado daqui a pouco.

um abraço

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