domingo, 14 de março de 2010

Dia 9 - De La Serena a Antofagasta - 911 km

Consegui por o cronograma em dia. Mas 900km num dia de moto não é coisa fácil.

Saí as 8 da manha do hotel em La Serena. A saída de la serena é bonita, sobe-se umas colinas e vê-se a praia lá embaixo. Em não muito tempo sai-se do litoral e sobe-se mais e mais até que passe por uma placa escrito Região de Atacama. Na minha cabeça, estou oficialmente no deserto. Durante a subida tem uns curvões em subida que é de fazer cair o queixo de qquer jaspion.
Estou no deserto, agora é rodar 300km até Copiapó. Blz, só que eu vejo no mapa que depois vem Caldera, e tem uma placa que indica a ida até caldera sem passar por Copiapó, fiz isso. Cheguei em Caldera e abasteci a moto. Comprei um pacote de bolacha e comi as batatas gratinadas de astronauta que trazia. Não perdi muito tempo e já toquei o barco. Viaja-se pelo litorar mais um tempo até chegar em Chañaral. Tem um porto de minério e umam vista legal lá. Vi Pelicanos pela primeira vez.
Lá abasteci de novo, e o frentista me pergunta se vou pra Antofagasta pela estrada nova ou pela ruta 5 mesmo. Me explicou que haviam asfaltado a ruta 1 e estava nova em folha e tinha uns 80 km a menos. Pra pegar bastava entrar para Tal Tal. Resolvi pagar pra ver. A ruta 5 vai pelo deserto, a rua 1 pelo litoral. Fui presenteado com uma descida de serra no meio de rochedos e montanhas até Tal Tal. Depois de lá eu deveria pegar a estrada para Paposo e então subir para encontrar a R5 novamente já pertinho de Antofagasta. Depois de Tal Tal a estrada é simplesmente maravilhosa, vai-se entre as montanhas e o mar, e quando digo entre mar e montanha é isso mesmo, as montanhas acabam no mar, e em cortes na rocha vai-se desenhanado a estrada. Lindíssimo. Até aí tudo bem, o problema é o seguinte, é deserto, em 200km eu cruzei meia dúzia de carros. Quando passa de Paposo, a estrada "acaba" e vira para trás subindo a encosta da montanha, em 1 km sobe-se 300m, Em 10km subi 1000m e em 21 km tinha passado os 2 mil metros, até os 400m a estada sobe num penhasco na encosta da montanha, aquela que acaba no mar....heheh é assustador, com um puta vento lateral empurrando a moto pra lá e pra cá. Parei onde deu pra tirar foto. Nessa parte da viagem foi a primeira vez que fiquei com medo. Percorri boa parte do trecho incomodado. E se quebrasse algo, e se pegasse uma pedra numa curva, e se, e se....enfim, comecei a achar que tinha colocado minha segurança de lado por uma bela estrada. E que estrava, olhem abaixo.
E aqui, depois de subir 2000m foi o que vi por um bom tempo. Passei tb na frente de um observatório, mas é restrito o acesso. Observatório do sul europeu o nome, tem até uma pista de pouso do lado da estrada.
O fato é que naquele lugar, se acontecesse qualquer coisa eu estava no bico do corvo. Não tinha nada, nem a frente e nem pra trás. Apenas deserto, areia. A sensação de ficar completamente sozinho e longe de tudo e todos é aterradora. Não pela solidão nem pela distancia, mas pelo risco envolvido. Basta furar um pneu num fim de tarde num lugar destes e é capaz de vc amanhecer congelado. Esfria muito rápido quando o sol vai. Saí de la serena com 10 graus, o ponto máximo foi no litoral aos 27 graus, no alto do deserto estava 20 a 21. Mas na chegada em antofagasta já na sombra das montanhas cai rapidinho pra 15, imagino a noite.

Outro ponto ruim dessa estrada é que ela sai na R5 depois a mão do deserto, que é parada obrigatória. Tive que voltar 20km na R5, 40 no total, e lá se foi o que tinha ganho. Sem contar que acabei tendo que usar pela primeira vez minha reserva de combustível, um galão de 4 litros foi-se, ainda tenho outro...heheh

Na mão do deserto encontrei uma família de Iquique, comecei a conversar com a Sra e quando vimos a filinha, de uns 4 anos tava correndo pra cima e pra baixo com meu capacete na cabeça. Depois pediu pra subir na moto, no fim minha foto da mão do deserto tá com uma verdadeira motoqueira sobre a moto. Esqueci o nome da menininha. O pai dela ficou com meu email pra me mandar outras fotos.

Incrivelmente estou bem fisicamente. Estou sem dores, cansado, mas nada demais. Agora, mentalmente estou um bagaço, 900km de deserto vão minando o cara. Além da preocupação com os 200 e tantos km que rodei incomodado tem o fato que ter que estar atendo o tempo todo, ter que driblar o sono, que vem forte nos retões, a fome, a sede(sim eu tinha comida e água, mas se bobedar vc esquece de comer e beber, hipnotizado com a estrada).

Em antofagasta achei um hotel pelo GPS mesmo, acabei ficando num que passei na frente antes. 18 mil pesos, uns 60 pila, tá bom. Agora é dormir e e amanha tem mais 500 até Iquique.

Abraços

4 comentários:

  1. De Saint Exupèry:

    "Mais coisas sobre nós mesmos nos ensina a terra que todos os livros, porque nos oferece resistência."

    Muito legal a parte que você descreve seu encontro com o Aconcágua!

    Grande abraço e cuide-se!

    Marcos

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  2. Traz um pelicano???? kkkk
    Carola.

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  3. A Martina é uma verdadeira motoqueira.
    C.

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  4. Espetacular a estrada. E vou dizer, se fosse pela R5, não seria tão diferente em termos de movimento não....
    Vai indo que estamos de olho.

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